Orange is the New Black é umas das séries
mais populares da atualidade e uma das séries mais século XXI de todos os
tempos. Um elenco composto majoritariamente por mulheres, aborda questões de
sexualidade, racismo e sociologia. Eu assisti as três temporadas de uma vez.
Enquanto a quarta temporada não chega, aproveitei para dar uma olhada no
livro que deu origem a essa série tão bem construída.
Eu fiquei muito surpresa. O livro não é
tão legal quanto a série. Nem de longe. Acho até incrível ter virado série,
porque para mim, não passa de um livro que a gente compra no supermercado. Uma
história genérica, o relato de Piper Kerman (Piper Chapman na série), uma
mulher branca de classe média que acaba sendo presa por carregar uma mala de
dinheiro para sua namorada traficante Nora Jansen (Alex Vause na série). Piper
descreve uma experiência na prisão, a meu ver, pouquíssimo comovente, pois em
comparação à suas companheiras de prisão, sua vida é as mil maravilhas e ela
faz questão de ressaltar isso ao longo do livro. A narrativa de Piper se resume
a: Contar o tanto de cartas, livros, carinho e apoio ela recebia dos amigos e
da família, citar que isso não acontecia com a maioria das outras presas e
apresentar alguma estatística sobre o assunto. O livro não consegue ser nem um
relato de uma história de superação (porque não há drama o suficiente, nem um
clímax bem construído), nem uma crítica ao sistema prisional americano, já que
apenas cita esporadicamente dados com alguns comentários do ponto de vista da
autora, mas sem uma visão mais ampla ou algum tipo de problematização mais
profunda, tampouco serve para conscientizar os leitores sobre a situação em que
se encontra o sistema penitenciário americano.
Mas a esperança não está perdida, pois os
produtores conseguiram enxergar um potencial enorme no livro. Tudo que o livro
pecou em abordar, foi exposto de forma atrativa para os expectadores. Você tem
drama, comédia, ação, suspense, pautas lgbt, pautas sociais, etc. No livro,
Piper só encontra Nora em Chicago, na série tiveram a excelente ideia de
colocá-las no mesmo lugar para que as duas personagens entrassem numa mistura de
conflito, antagonismo e romance louco. Larry é um doce no livro, na série, os
roteiristas não mediram esforços para transformá-lo no homem que você mais vai
odiar. As detentas no livro vivem numa sororidade melancólica, na série é
sempre uma zona de guerra entre as brancas, negras, hispânicas e outras
minorias.
Uma amiga minha comentou que achou que ao
avançar da série, Piper perdeu o protagonismo e as outras personagens ganharam
muito mais espaço. Esse pra mim é o ponto mais legal da série. Eu respondi:
“Pra quê ficar mostrando o drama da mulher branca de classe média que fez merda
na faculdade sendo que existem outras histórias que refletem a realidade de
várias mulheres reais oprimidas pela situação social em que se encontram?”. O
que acontece em Litchfield acontece no mundo real. Existem brigas entre grupos
étnicos, racismo velado, estupros, tanto por parte de outras presas quanto por
agentes penitenciários, tráfico, suicídio, reincidência por falta de políticas
de reabilitação (e por causa do próprio sistema), corrupção e por aí vai.
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