AUTOR: Nelson Luiz de Carvalho
EDITORA: Edições GLS
ISBN: 9788586755439
LANÇAMENTO: 1998
NÚMERO DE PÁGINAS: 210
NÚMERO DE PÁGINAS: 210
Baseado em uma história real, este romance desafia rótulos e hipocrisias, revelando os meandros de consciência de Marcus, um jovem comum da classe média paulistana. Com o melhor amigo Renato, descobre o amor e compreende que os dois precisarão encontrar o equilíbrio entre o que sentem e o que a família e a sociedade esperam deles, até que um terceiro personagem aparece.
É incrível como um mesmo livro pode suscitar reações
profundamente diferentes em seus diversos leitores e mais incrível ainda é a criatividade humana quando
se trata de expressar sua indignação em
relação a algo. Ao coro de indignados, junto-me agora.
"Não. Só não." define
muito bem meus sentimentos, mas permitam-me explicar por que, nas palavras do
autor do comentário previamente citado, "esse livro é todo errado".
Alerto já que haverá spoilers, pois apenas através de exemplos é possível
compreender o quão absurda e problemática é esta história, mas não se
preocupem, adianto que minha única recomendação é para que fiquem o mais longe
possível deste livro.
Pois bem, a história começa - mal, devo dizer - com
dois jovens, Hermes e Renato,
digo, Marcus e Renato que se descobrem atraídos um pelo outro e se
envolvem. Não bastasse um início fascinante e absolutamente inovador, leia-se o
sarcasmo, o leitor já se depara imediatamente com uma escrita superficial em
que o autor nos diz o que acontece em vez de deixar a história contar a si
mesma. Mas obviamente o desgosto não se limita à forma como os acontecimentos
são relatados; o próprio conteúdo é problemático e superficial, tal como a
escrita.
O primeiro dos muitos, muitíssimos pontos
profundamente errados, se dá no fato de que, uma vez feito o sexo, Marcus já se
refere a Renato como seu namorado. Não há diálogo para que se estabeleça que
ali há uma relação estável, não há uma oportunidade na qual o consentimento é
manifestado, não há sequer uma base factual sólida para qualificar a relação
dos dois como romântica e bem definida. E não será a primeira nem a última vez
em que as personagens são absolutamente incapazes dialogar ou em que o
consentimento é, no mínimo, duvidoso.
Dentre os muitos ocorridos desta novela mexicana cheia
de dramas, vale ressaltar também o maravilhoso momento em que o pai de Renato,
após o filho revelar ser homossexual, lhe dá uma facada sem querer. Repito: sem
querer. A explicação dada é esdrúxula, o fato em si é surreal e o todo é
simplesmente ridículo. Mas quisera eu o livro se resumisse a cenas absurdas
como esta, pois ao menos assim não seria o grande desserviço que é.
E eis aqui um ponto crucial: apesar de tratar do romance (a princípio) de dois garotos, o primeiro desserviço de O Terceiro Travesseiro é à comunidade MOGAI*, em especial aos homossexuais masculinos afeminados, já que o autor se vê no direito de, não uma, mas duas vezes tratar o ser afeminado como algo a ser ridicularizado. A perpetração de conceitos típicos da sociedade patriarcal, porém, vai muito além e poder ser vista também na forma como Beatriz é tratada, vítima de xingamentos misóginos jamais criticados ao longo do livro. E mencionei agressão entre parceiros, sinal de um relacionamento abusivo? O sexo não consensual? Tudo isso sem que um A de problematização fosse proferido.
E eis aqui um ponto crucial: apesar de tratar do romance (a princípio) de dois garotos, o primeiro desserviço de O Terceiro Travesseiro é à comunidade MOGAI*, em especial aos homossexuais masculinos afeminados, já que o autor se vê no direito de, não uma, mas duas vezes tratar o ser afeminado como algo a ser ridicularizado. A perpetração de conceitos típicos da sociedade patriarcal, porém, vai muito além e poder ser vista também na forma como Beatriz é tratada, vítima de xingamentos misóginos jamais criticados ao longo do livro. E mencionei agressão entre parceiros, sinal de um relacionamento abusivo? O sexo não consensual? Tudo isso sem que um A de problematização fosse proferido.
A tudo isto, soma-se ainda o desserviço que a história
faz ao poliamor, já que o relacionamento a três não surge de um diálogo e do
estabelecimento de igualdade entre todas as partes. Pelo contrário, Beatriz é
quase como uma terceira parte intrusa, aceita, mas menos amada, menos desejada,
menos essencial. Como sempre, ao encarar não apenas esta situação, mas
múltiplas outras ao longo do livro, as personagens são superficiais, incapazes
de agir racionalmente, de conversar em busca da resolução de seus problemas. A
verdade é que tudo parece ser transformado em um grande esquema, sempre
permeado de drama, efetivamente como em uma novela mexicana das mais absurdas,
de modo que o livro se torna repulsivo.
Minha mais sincera recomendação é: não leiam este
livro. A trama é ridícula, a escrita é atroz, as personagens são um pesadelo e
nem sequer a mensagem que deseja passar é positiva. Se querem uma boa história
que contenha um casal homoafetivo, recomendo The Song of Achilles.
Escrito em: 28/01/2016
Livro lido em: 26-27/12/2015
*Popularmente conhecida como comunidade LGBT, utilizo
aqui um termo menos conhecido, porém mais abrangente e includente. MOGAI =
Marginalised Orientations, Gender Alignments and Intersex; em português:
orientações e alinhamentos de gênero marginalizados e intersex (em tradução livre, que não pretende negar a marginalização
de indivíduos intersex, apenas optando por colocar o adjetivo antes por razões
estilísticas)
Boa noite amada linda! parabéns pelo blog lindo! faço parte do blog Agenda dos Blogs, estou te seguindo, beijinhosssssssssssss
ResponderExcluirhttp://rubiaartes.blogspot.com.br
Muito obrigada, Rubia!
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