Fonte: www.saraiva.com.br |
AUTOR: Luiz Puntel
EDITORA: Editora ÁticaISBN: 8508020481
LANÇAMENTO: 1996
NÚMERO DE PÁGINAS: 151
A jovem Marta tem sua vida transformada após um trágico acidente que culminou na morte de seu irmão. Abalado, seu pai Pedro decide mudar de cidade e viver da colheita da cana. Ele culpa Marta pela perda do filho e a impede de estudar. Os dois passam a viver constantes desentendimentos. Decidida, a jovem vai atrás de seus sonhos e enfrenta a dura realidade da vida como boia-fria, enquanto lida com as mudanças e desejos típicos da adolescência. Aos poucos, ela entende a necessidade e a importância da luta social para conquistar seus direitos.
Imagino que muita gente conheça a coleção
Vagalume e que talvez essa coleção de livros fantásticos tenha sido o começo de
uma grande paixão pela literatura. Quem não lembra daquelas capas antigas
padronizadas, com a ilustração num colorido, a contra-capa com a lista de todos
os outros títulos da coleção já lançados? E o Vagalume hippie das versões mais
antigas e conversava com o leitor?
Li vários títulos da coleção quando eu era
mais nova, mas deixei passar Açúcar
Amargo, de Luiz Puntel e me
arrependo por isso. Lembro-me que minha mãe tinha este livro. Via-o na
prateleira quando era pequena, mas nunca achei a capa ou o título atrativos
(claro, com meus oito anos, só gostava de ler Sítio do Picapau Amarelo). Na verdade,
só fui introduzida à coleção Vagalume no ano seguinte, em que lemos A Ilha Perdida, de Maria
José Dupré. Em uma das mudanças que fizemos, minha mãe e eu, esse livro acabou
se perdendo.
Este ano, porém, resolvi ler alguns livros
da coleção Vagalume que consegui em PDF e decidi começar precisamente por Açúcar Amargo. COMO
NINGUÉM INDICOU ESSE LIVRO NA ESCOLA? A obra é simplesmente sensacional, não só
para uma aula de literatura, mas talvez para uma aula de geografia ou história,
quem sabe. A trama gira em torno de Marta,
uma menina de 14 anos que morava com os pais num pedaço de terra arrendado, mas
teve sua família expulsa de lá devido à expansão da agroindústria canavieira.
Já começamos com um tópico muito estudado nas escolas (ao menos na minha época,
estudamos sobre os bóias-frias, o êxodo rural, produção alcooleira…). O autor
aborda o assunto de uma forma que toda criança ou adolescente leitor possa
entender, o que é um ponto positivo, pois não há nada de muito profundo, nem as
explicações chatas de um livro de geografia.
Marta apanhando do pai após uma discussão. |
Mas a história vai além disso. Marta sofre grande rejeição de seu pai, Seu Pedro, por ser mulher e
"não ser capaz" de ajudar na fazenda, tampouco nos canaviais. Para um
livro de 1996, esperar-se-ia da protagonista uma atitude de remoer as
injustiças e culpar o pai por tudo, fugir de casa e ser uma “rebelde sem
causa”. Mas, porém, todavia, entretanto… Marta é uma feminista! É isso mesmo que
você leu, em um livro antigo, escrito por um homem, uma feminista! Não estou
dizendo que, só porque é velho, é arcaico, ou que, só porque é um autor, vai
ter conteúdo misógino, mas foi algo realmente inesperado. Marta, ao longo da obra, por
priorizar seus estudos em relação ao trabalho braçal e se recusar a ficar em
casa para se tornar uma esposa submissa como sua mãe, entra em vários embates
com o pai. De Seu Pedro não se podem esperar mais do que
aquelas famosas frases medievais que muitas de nós já ouvimos: “lugar de mulher
é em casa”, “não quero minha filha zanzando na rua à noite”. E, apesar de este
tipo de diálogo poder até ser identificado em outras obras – eu mesma acho que
já vi o conflito entre pai machão e filha rebelde no mínimo em quatro novelas
diferentes – acredito ser interessante que este clichê esteja presente no
livro, porque, no fim, Marta toma uma atitude funcional. Mas chega
de falar da história, quase dei uns três spoilers de uma vez.
Um aspecto que pode dificultar a leitura
para quem é mais velho (estou com 23 anos, no caso) é que o livro é todo feito
para J-O-V-E-N-S, então você vai tropeçar em um romance adolescente, naquelas
preocupações colossais com escola, crescimento pessoal, etc. Tentem relevar
tudo isso para apreciar a obra. No geral, recomendo que leiam e recomendem para
suas filhas, primas, sobrinhas, para a filha de uma amiga… Indiquem esse livro
para uma jovem, mas pode ser ela não se identifique com Marta, talvez este
livro tenha ficado ultrapassado. Talvez. Se tiver ficado, ainda bem que ser
mulher não é mais um grande problema.
Oi Lu!
ResponderExcluirAaaaaaaaaaah como eu amo essa coleção vagalume!!!
O primeiro livro que devorei até o final sem ter sido por "sugestão" da professora foi O FABRICANTE DE TERREMOTOS.
#nostalgia
=)